Entre o Bom Senso e a Síndrome de Mãenazona

20 de novembro de 2008

Esses dias, fiquei uns 10 minutos em frente a um supermercado num bairro da cidade, esperando uns conhecidos, e quase matei meia dúzia de filho-de-mãe-puta-e-pai-porteiro…Primeiro, um galhudo com o carro estacionado na porta do mercado, onde tem DEZOITO FAIXAS AMARELAS pintadas, sinalizando que ali não é pra estacionar. Como não tinha mais vagas, não importa se todo mundo terá que desviar do meu carro, se eu puder estacionar, certo?

Depois, algum virgem estacionou o carro de forma a fechar o estacionamento de motos, deixando só uma passagem lateral que cabia só uma moto. Lá dentro, lotado. Chega outro cabaço, de moto, e como não tem vaga, estaciona do lado do carro: FECHANDO TODAS AS MOTOS QUE ESTÃO ESTACIONADAS!

Aí, vem os tiozinhos que acham que ninguém mais tem nada pra fazer da vida do que esperá-los: vão buscar o carro lááááá na puta que pariu, param no corredor do estacionamento, impedindo qualquer um de entrar ou sair do mercado, abrem as 4 portas e o porta-malas, e a família fica brigando pra ver quem vai guardar o quê e quem vai comendo o quê no caminho… enquanto isso, quem quer entrar no mercado, espera no meio da rua. Quem quer sair, fica olhando a cena e esperando…

E, todo dia, vejo vááários exemplos. Gente que adora reclamar que tudo tá uma merda, que ninguém respeita ninguém, mas que sempre é o primeiro a fazer pior ainda! Gente que odeia que peçam coisas emprestadas, mas que pega as coisas alheias sem sequer pedir. Pessoas que fazem de conta que não percebem os problemas para não correr o risco de ter de resolvê-lo.

Enquanto o cara dá uma de João-Sem-Braço, o mundo continua girando. O problema continua existindo e, geralmente, piorando. Quando a pessoa começar a trabalhar nele, já estará pior. Talvez seja justamente essa a intenção, porque aí dá pra alegar que não tem como resolver mesmo…

É foda, essa Síndrome está cada vez mais arraizada. Hoje, vi um trouxa reclamando da demora no banco. Não era trouxa por reclamar da demora, que fique claro. Era trouxa porque reclamava com a caixa que o atendia. Ela (e eu) explicou que não era culpa dela, que tiraram 4 funcionários da bateria de caixas, e por isso estava demorando mais. Pediu a ele que fosse reclamar com o gerente, se desejasse. O trouxa (agora, explicado) preferiu ficar ali, repetindo que “embora a culpa não seja tua…”, e dizendo que todo mundo ali tava fazendo ele de trouxa. Que a tal caixa que o atendeu estava fazendo “operação tartaruga”. Que o gerente não atendia ninguém porque sempre tava ocupado, e quando atendia, não resolvia nada.

FILHO DA PUTA! ESCUTA, CARALHO! Se ele não resolve nada, se ninguém resolve nada, PORQUE NÃO CALA A BOCA? As pessoas sempre têm duas escolhas, no mínimo. No caso, o cara tinha duas, bem claras: reclamar com quem decide, com quem é responsável pelo problema dele, ou aceitar a situação e esperar, quieto. Não fez nem uma nem outra. Não fodeu nem saiu da moita. É macho pra gritar com quem “não pode” bater de frente com ele…

A posição “PMDB” hoje é sempre a mais favorável. Cada vez mais, se vê menos gente de esquerda ou de direita. Todo mundo é centro. Todo mundo é em cima do muro. Todo mundo evita tomar partido, tomar posição. Porque? Talvez medo de estar errado. Mas, esquecem que, se você não está jogando em nenhum time na final do campeonato, não corre o risco de ser vice, mas também nunca dará a volta olímpica com a taça…


Mais uma pasta de dente…

12 de novembro de 2008

Na verdade, menos uma. Everaldo levantou tarde, de novo. Tomou um banho pra tirar o gosto amargo de ressaca do corpo. Não adiantou. Ainda pelado e molhando o balheiro todo, pegou a escova de dentes pra tentar tirar o gosto de guarda-chuvas da boca.

– Porra, já tá no fim de novo… Será que meu cachorro anda comendo minha pasta de dentes enquanto eu não tô em casa?

Mais um tubo de pasta de dentes chegando ao fim. Mais uma vez, pego de surpresa. Não tinha outro no estoque. Mesmo se tivesse, o susto seria o mesmo. “Mas parece que foi ainda esses dias…”. Não era esbanjador, não botava muita pasta de cada vez. Aquele meio centímetro, só pra fazer espuminha mesmo… e olha que mal e mal escovava os dentes duas vezes por dia! Alguma coisa muito estranha acontecia.

Não era o cachorro que comia a pasta de dentes. E sim era o tempo e a rotina quem consumiam a vida de Everaldo. Todo dia que ele acordava, cedo ou tarde, apertava o tubo de pasta de dentes com a mesma má vontade, com os mesmos olhos inchados e com a mesma desatenção. Só percebia algo diferente quando o tubo já tava BEM no fim…

Ele não parou pra pensar nisso porque estava muito ocupado arrumando suas coisas para sair para mais um dia de trabalho. Mas se tivesse parado para pensar, perceberia que (muitas) outras coisas de sua vida tinham o mesmo fim daquele tubo de pasta de dentes: iam se apertando, se acabando, e ele só percebia quando já não serviam pra mais nada.

A relação com os pais, que moravam em outra cidade, a relação com os amigos que moravam longe, com a namorada que já não frequentava tanto assim a sua casa. A relação com o trabalho que ele jurava mudar logo, porque não aguentava mais. E já faziam quatro anos. Mudança? Nenhuma. Mas, todos os dias, ele jurava de novo, pra si mesmo, que não suportaria aquela condição por mais tempo.

Não seria mais apertado como um tubo de pasta de dentes. Não seria mais torturado até o seu fim, quando se tornaria apenas lixo, sem importância alguma.

Não deu tempo. Naquele dia, pensando se o cachorro comera sua pasta de dentes, Everaldo não viu um carro que fazia a curva pela esquina de onde trabalhava. Morreu esmagado. Mas com alguma pasta dentro do seu tubo.

O cachorro, continua lá, esperando ele voltar. Não percebeu nada ainda, porque o dono só voltaria hoje no final do dia. E continua sedento por atenção do dono, que sempre está ocupado com coisas “mais importantes”. E nunca comeu pasta de dentes…


Para ou não para?

10 de novembro de 2008

Primeiro, a dúvida: o ato de parar seria “pára” ou “para”? Ainda bem que mudaram as coisas, cortaram os acentos, então espero que assim meu título esteja certo…

Depois, a dúvida central do post: os trabalhadores do transporte coletivo de Blumenau estão, daqui a meia hora, legalmente autorizados a paralizarem suas atividades. Mais uma vez, a negociação não anda.

Desde a semana passada que se sabe que, nesta segunda, venceria o prazo legal para publicação do edital, permitindo a paralisação. Sacanamente, os empresários do setor marcaram a negociação para HOJE, às duas horas da tarde…

Acho que os trabalhadores deveriam parar às 9h31, e só voltar depois do acordo. Esta estratégia de atrasar a mobilização dos trabalhadores com o calendário de negociação é velha e muito usada em outras categorias. É evidente que os empresários já marcaram essa reunião na semana passada, mas deixaram para divulgá-la ao movimento sindical somente no domingo, para evitar discussões sobre esse prazo extendido…

Legalmente, se eu não cumpro meus deveres, não posso negociar um prazo maior para fazê-lo, certo? Ou seja, se o Consórcio Siga compra 10 ônibus, para pagar no dia 10/11, não adianta ligar no dia 09 pedindo para renegociar a dívida. Ou não é? Então, porque quando é pra pagar o salário do trabalhador, as coisas são encaradas de outro modo? Se o fornecedor de ônibus botasse o Consórcio Siga no Serasa por não ter honrado seu compromisso, estaria sendo desonesto? Agitador? Estaria agindo contra o bom senso? Contra a moral e os bons costumes? Então, não vejo motivos para os trabalhadores que atrasam sua negociação por tanto tempo têm de ser considerados subversivos…

Já circula na cidade a possibilidade da vinda da Cavalaria e da Tropa de Choque de Florianópolis para “garantir a segurança” nos terminais. Em Blumenau, acompanho o movimento sindical há dois anos, e nunca fiquei sabendo de um confronto sequer durante uma greve. Pequenos casos de confusão localizada, mas nada que justifique o gasto do governo estadual para deslocar toda essa milicada até aqui.

Mês passado, fugiram 16 do Presídio da cidade. Quantos homens o governador enviou para manter o cidadão blumenauense em segurança? Nenhum! Mas, na greve dos têxteis, estava cheio! Até helicóptero sobrevoava as empresas paralisadas…

Cada vez mais, o Estado mostra a que serve quando é conduzido pelo liberalismo puro: as instituições que deveriam proteger o cidadão, como o Seterb e a própria Polícia Militar, só defendem os interesses dos grandes empresários. O Seterb não aciona o Consórcio Siga quando um ônibus superlotado anda pela cidade, mas multa o motorista que para o ônibus um metro a frente do ponto. A Polícia Militar não tá nem aí se a sua casa foi invadida enquanto você estava viajando, mas desloca 10 viaturas para o pátio de uma fábrica onde os trabalhadores estão FORA dela…

Prova disso são as entrevistas na mídia. O presidente do Seterb, Rudolf Clebsh, é quem diz o que as empresas podem pagar, o que vão reivindicar na Justiça (para forçar o empregado a trabalhar, nunca acionaram nada para proteger o usuário de ônibus!!!), etc. Ninguém fala em nome do Consórcio Siga. Será que ninguém quer ligar o seu bonito nomezinho à “licitação” do ano passado? Ou será que têm vergonha de serem os caras que enchem o cu bolso de dinheiro cobrando caro por um serviço porco ruim que trata o cidadão como um filho da puta bóia fria?


Eles estavam certos!

8 de novembro de 2008

Se tem uma coisa que sei fazer, é reconhecer quando errei. Também não tenho culpa se isso é muuuuito difícil acontecer, certo?

Então, hoje, digo: eu não acreditei quando falaram que o Obama resolveria todos os problemas do mundo. Achei exagero quando a Globo botou todos os atores negros pra falarem no Jornal da Globo (não vi o JN ontem) sobre a eleição do Obama, quando botaram os principais líderes de direita do país pra falar como tudo iria ser melhor a partir do momento em que ele foi eleito…

E, reconheço: não fazem três dias que o negão candidato afro-descendente se elegeu, e ninguém mais ouviu falar do JPK em Blumenau! Começou bem!


Sexta, Cesta e Sesta!

8 de novembro de 2008

Uow! Primeira sexta-feira do blog. Como é sexta-feira, preguiça do final de semana começa a tomar conta. Zapeando pelas inutilidades da internet (seria redundância?), achei um belo exemplo do que fazer no final de semana!

Meia dúzia de desocupados da Louisiana (EUA, terra do Salvador Obama) resolveram ajudar o Obama a resolver o problema da fome no mundo. Começaram fazendo o que eles juram ser a maior omelete do mundo. Será? http://www.giantomelette.org . Minha conclusão: falta do que fazer + 5000 ovos sobrando + vontade de aparecer = desperdício Guiness Book. Mas, tudo bem.

Pra constar a última variante do verbete, sou obrigado a dar uma dormida. Mas, só amanhã. Hoje, ainda é sexta. Saco…


Calma, nós temos Obama!

8 de novembro de 2008

Como fugir disso?

Não tem como não falar sobre a eleição do Obama essa semana… Aliás, agora que ele está eleito, tudo mudou. A vida está melhor pra todo mundo. Até eu criei um blog! Veja só: mais um.

Andei procurando uns textos antigos pra postar aqui e movimentar desde o começo e, adivinhem? Descobri que não existem mais! Ainda bem que no tempo de faculdade imprimi alguns e ainda devo tê-los guardados em alguma gaveta. Se achá-los, talvez publique os que merecerem.

Por enquanto, fiquem felizes: nós temos Obama. E, ele deve resolver os problemas da saúde pública [sem botar as filas pra trás do posto], tapar os buracos das ruas que não fizeram meio ano ainda, arquivar a imbecil idéia de privatizar o esgoto, e tudo mais! Ainda bem que veio o Obama! E eu me preocupando tanto nas nossas eleições daqui, em outubro… ah, como é bom o alívio de ver que tudo vai se  resolver…


Liberdade de Expressão!

8 de novembro de 2008

Foi , foi , foi mal aí, véi!
Se eu falei um monte de coisa que você não gosta
Com o microfone eu tenho a faca e o queijo
Olho o jornal, eu ouço rádio, eu só ouço bosta
E na tv eu não gosto de nada que eu vejo

Uma camisa-de-força tamanho mirim
Vai ter que me explicar tintim por tintim
Por que a lei só se aplica a mim
Perigo pra sociedade é o que me dizem
E penso comigo mesmo: por que não eu
Pra cuspir o pensar e taxarem de crime?

“é inverno no inferno e nevam brasas
Por favor, escondam-se todos em suas casas
Pois o anjo caído voa com novas asas
Raimundos, Nativus, Black Alien
Quebrando a espinha de filhos da puta
Como num mergulho de águas rasas”

Liberdade de expressão!!!
Deixa eu falar, filha-da-puta!!!
Expressão!!

“a livre expressão é o que constrói uma nação
Independentemente da moeda e sua cotação”
Deixa eu falar, filha-da-puta!!!
Expressão!!

Preste atenção no que eu vou dizer
Consciência e rebeldia é o que eu preciso ter
Pois minha mente pede
Num hardcore ou reggae
A mensagem vem das ruas, não dá pra esconder
Eu tenho um segredo
Já não tenho medo
Viver não vale nada se eu não me expressar
Seja certo ou errado, de cara ou chapado
Quem é calango do cerrado nunca vai mudar

Liberdade de expressão!!!
Deixa eu falar, filha-da-puta!!!
Expressão!!

Deixa eu falar, filha-da-puta!!!
Expressão!!

Liberdade de expressão!!!
Deixa eu falar, filha-da-puta!!!
Expressão!!

“a livre expressão é o que constrói uma nação
Independentemente da moeda e sua cotação”
Deixa eu falar, filha-da-puta!!!
Expressão!!

“de junho a junho eu nasço
Eu morro de março a março
Presencio cenas impossíveis de traduzir para o cinema
Não perco atuações e atos
Mesmo quando abaixo pra amarrar os cadarços
Espaço, espaço, eu preciso de espaço
Pra mostrar pra esses covardes seu crepúsculo de aço
Imperial, como Carlos, eu passo
Conexão nordestina
Até Niterói, morte e vida Severina
Passando por Brasília…
Reis…”

(caralho!!!)

Raimundos – Liberdade de Expressão [Rodolfo/Digão]


Pra começar bem…

Agora já era: começou!