O lixo nosso de cada dia

1 de julho de 2009

A cada dia, me espanto menos com o tanto de merda burrice das pessoas. Não, eu não escrevi errado, nem você entendeu errado. Eu me espanto menos. Porque me acostumo cada dia mais com este fato.

Nunca fui fã de novelas. Tá, lembro de ter assistido uma ou outra, mas nunca deixei de dar uma mijada sequer só pra continuar acompanhando. Primeiro, porque novela foi feita pra isso: você assistir uma vez por semana e, mesmo assim, entender o desenrolar da história. Sempre achei que ver novela era um bom passatempo pra doentes e velhas que não tinham mais apêgo à vida. Fora isso, serve pra fazer um barulhinho e tirar a monotonia da casa de quem mora sozinho.

Até por isso, não discordo dos teóricos que comparam a televisão à uma companhia. Os doentes nos hospitais, os pobres diabos em filas de espera que o digam. Mas, até que ponto?

Há algumas semanas, estava em uma festinha de aniversário de criança. Nada demais. Um sábado a noite, meia dúzia de famílias mais próximas na casa de outra. Pastelão, cachorro quente, Coca-Cola, papos-cabeça sobre política e coisas do tipo, até a maldita hora da novela. A mesa ficou pela metade. Arrastaram as poltronas para a frente da televisão, e brigavam pelo melhor lugar para assistir a porra da Índia.

Costumo chamar, ultimamente, as novelas de LIXO. Não acho que seja um exagero, sinceramente. Léguas distante da arte ficcional, a ficção das novelas é feita para alienar as pessoas. Desconstrói mentes que já nascem engessadas. Confunde a realidade. E, nos poucos momentos de confraternização que nos damos ao luxo, ainda separam os comuns?

Se fosse na minha casa, juro que teria ido lá e desligado a televisão sem cerimônias. Faço uma festa, recebo as pessoas em minha casa, alimento-as, e elas preferem ficar vendo NO-VE-LA? Gente desse tipo merece ir pra puta-que-pariu ficar sozinha pro resto da vida.

Devaneando sobre a ficção das novelas, é impossível não se ater ao fato de que a grade de programação das emissoras de televisão aberta adoram confundir a mente do telespectador. Pobres mentes, que já nascem fadadas a serem atrofiadas em pouco tempo. A televisão cumpre um papel fundamental na sociedade, que é não deixar o cidadão pensar. Porque?

Porque quem não pensa, não analisa a sua conjuntura. Não enumera problemas. Não os resolverá. Não os discutirá, tampouco procurará culpados. Não se preocupará. Não será perigoso para quem quiser o continuísmo. Nunca ameaçará a atrofia cerebral contínua e progressiva que percebemos ao nosso redor. Manterá a sociedade-média como mera fornecedora de mão-de-obra. Nunca pensante!

Apesar de perder boas horas da minha vida vendo jogos de futebol, é inegável que ele tem um papel fundamental nesse sentido. Colocado justamente no domingo a tarde, ele serve para abreviar as reuniões familiares e acabar as conversar. Ao fim do jogo, já escurecendo, é hora de voltar para casa e se preparar para a semana que começa. Para garantir a atrofia, as mesas-redondas cheias de imbecis do naipe de Milton Neves, Avallones e Comedores de Bolacha continuam o assunto.

Durante toda a semana, a pressão começa quando começam a apitar as primeiras fábricas. 17h já tem novela. Ficção. E assim, continua, na grade da Vênus Prateada que guia o Ibope nacional, até às 19h. Para quê? Para dar tempo do trabalhador ir tomar o seu banho, ou jantar. Em seguida, mais ficção barata. Até outro telejornal. Agora, terminará a ficção? A mente incapaz de saber a diferença entre um Big Brother e uma câmera de segurança saberá diferenciar a manipulação informação de um telejornal da ficção? Duvido! Para garantir que não se perca, depois do telejornal tem… NOVELA!

Vamos resumir: durante cerca de seis horas contínuas, o telespectador brasileiro é bombardeado por ficção-realidade-ficção-realidade-ficção. Terá condições de diferenciar claramente DUAS situações dessas? Duvido… e a realidade que se apresente prova isso a cada dia… dizem o que nos preocupa. Dizem o que nos tira o sono.

Não chorei pelos mortos da Air France. Foda-se. Fodam-se todos eles, junto com os mortos da TAM em São Paulo e os da Gol no meio do matagal. Você que chora as mortes francesas, lembrou também daqueles defuntos que já mereceram tuas lágrimas?

O bombardeio também sabe ser mais cruel. Ainda bem que não chorei pela morte da Eloá. Senão, o que a Isabella Nardoni pensaria por eu tê-la esquecido? Putz, e o João Hélio? Alguém lembra dele? E os irmãos Cravinhos, continuarão mortos? O Champinha, o que anda fazendo da vida? Já é maior de idade, ou podemos continuar usando-o para justificar a redução da maioridade penal para podermos botar negros e pobres que roubam galinha mais cedo na cadeia?

Todos os dias, a ficção da vida real (sim, confuso!) nos bombardeia. Nos confunde. Nos entope de LIXO.

Não perca seu tempo. Desligue a televisão e despolua o mundo. Não espere que o seu vizinho faça a parte dele. Se você não rir quando ele falar uma palavra em indiano, já terá dado o recado. Não jogue o seu cérebro fora, ainda há tempo!