Ainda sobre Sarney & Marçal

27 de agosto de 2009

Recebi o comentário do amigo Zoltan Bergmann (do http://otrabucodeblumenau.blogspot.com), e sou obrigado a publicar, devido à análise um pouco mais aprofundada que ele fez sobre o meu post. Considero que ele tenha seguido a minha linha de raciocínio, e conseguiu traduzir em palavras com mais sucesso do que eu.

Reproduzo:

“A frase “Marçal é o Sarney de Blumenau” não me saiu da cabeça nestes dois dias; agora com tempo teço as considerações que me vieram à mente quando li, e gostei, desta frase.

Vamos primeiro comentar do Sarney: ele foi acusado de muitas coisas e levado ao conselho de ética do senado; e o Tarso Jereissati que abasteceu o avião particular? E o Tião Viana que deu o celular para a filha usar no passeio nos EUA? E o Artur Virgílio que pagou um assessor que estudava na Europa? e outros mais que não me recordo. Além disso o Sarney beneficiou seus parentes e sua fundação.

E o Marçal? Teve o problema com a van? Sim, teve. Mas e o outro vereador que tentou fugir de uma blitz de trânsito? E o outro que arrumou confusão com a guarda de trânsito nas imediações de uma igreja? O Marçal beneficiaria os passageiros da van que estava detida.

Tanto o Sarney como o Marçal tem a sua dose de culpa, mas a única coisa em comum entre os dois é a postura de seus pares que deveriam ter agido com igual rigor com os demais casos constatados.

É por isso que concordo que os vereadores blumenauenses não deveriam criticar os senadores.”

Amigo Zoltan, concordo plenamente contigo.

Entenda (e você também, leitor) que meu texto não tenta crucificar dois políticos, pontualmente, um no Senado Federal e outro na Câmara de Vereadores de Blumenau. Considero, sim, que não passam de “farinha do mesmo saco”, pra cair num lugar-comum.

Existem diferenças, até porque a importância e o quilate de seus cargos têm um penhasco de diferença. Os exemplos citados são perfeitos para mostrar que poderíamos estar comparando Tião Viana e Zeca Bombeiro, Arthur Virgílio e Fábio Fiedler, ou qualquer outra comparação. Respeitadas as escalas, não foge muito da regra.

Essa é a parte mais triste da história. Quando o sujo fala do mal lavado, entende-se. Não apoia-se, entenda bem. Mas, entende-se. Mas, quando todos estão metros e metros abaixo da merda lama, é complicado ver gente matracando contra o partido opositor. Não tenho qualquer apreço pela gestão local, tenho um pouco menos de aversão à gestão federal, mas entendo que esse meu comentário poderia muito bem ter seus exemplos invertidos, servindo até mesmo de argumento para o pessoal da direita local.

Enfim, é muito assunto ainda…


Sarney ou Marçal?

25 de agosto de 2009

A informação é uma benção. E, como tal, geralmente não serve pra nada. Assim como o beato vítima de um sinal da cruz, um leitor/telespectador/internauta que busca informação acaba, na grande maioria das vezes, aceitando aquilo e não sabendo exatamente pra que serve.

Esperei alguns dias pra falar sobre qualquer coisa envolvendo interesses políticos. É fácil malhar o pau no Sarney. Porra, alguém, fora a família dele, quer o cara lá? Nem o Lula! O Sarney é o típico Zé Marçal. Tem cara de ser um zero à esquerda mas, visto bem de perto, é bem pior que isso. Tem cara de quem não se atualiza, não sabe exatamente pra que serve, mas sabe que “merece” um holofote. E se acha importante, embora não consiga enumerar 3 motivos para tal. Muito menos UM bom motivo.

Ambos fizeram merda. Ambos fazem merda. E ambos farão merda. Ambos chegaram a ser “julgados”. Ambos, absolvidos. Ambos, “vítimas” de comentários maldosos por parte da oposição, que não gostou de ver a vontade política prevalecendo. Também não gostei, em nenhum dos dois casos, que fique claro. Mas, quem tem maioria, manda. É o sistema político.

Reclamar do arquivamento do caso do Sarney (ou o do Marçal, dá no mesmo) sem comprometer todo os sistema político e eleitoral do país é burrice. É como pedir pizza portuguesa e reclamar que veio azeitonas!

Interessante é ver que, do mesmo jeito que o PT malhou o pau na pizza do Marçal, a oposição PSDB/DEMo/Mídia malha o pau na pizza da Capital Federal. Seria interessante, se não fosse o nosso rabo na reta. Quem sustenta OS DOIS vagabundos parlamentares? Eu e você.

O jeito é torcer pra distribuírem mais pizzas por aí. Na Câmara, pelos assessores do PT, ou pizzas com a cara do Sarney pelo país. Acho que o único jeito de “lucrar” com toda essa putaria é ganhando um pedaço da pizza mesmo… de resto, só discutindo realmente todo o sistema. Fora isso, será apenas balela político-partidária e interesse apenas na próxima eleição…


O lixo nosso de cada dia

1 de julho de 2009

A cada dia, me espanto menos com o tanto de merda burrice das pessoas. Não, eu não escrevi errado, nem você entendeu errado. Eu me espanto menos. Porque me acostumo cada dia mais com este fato.

Nunca fui fã de novelas. Tá, lembro de ter assistido uma ou outra, mas nunca deixei de dar uma mijada sequer só pra continuar acompanhando. Primeiro, porque novela foi feita pra isso: você assistir uma vez por semana e, mesmo assim, entender o desenrolar da história. Sempre achei que ver novela era um bom passatempo pra doentes e velhas que não tinham mais apêgo à vida. Fora isso, serve pra fazer um barulhinho e tirar a monotonia da casa de quem mora sozinho.

Até por isso, não discordo dos teóricos que comparam a televisão à uma companhia. Os doentes nos hospitais, os pobres diabos em filas de espera que o digam. Mas, até que ponto?

Há algumas semanas, estava em uma festinha de aniversário de criança. Nada demais. Um sábado a noite, meia dúzia de famílias mais próximas na casa de outra. Pastelão, cachorro quente, Coca-Cola, papos-cabeça sobre política e coisas do tipo, até a maldita hora da novela. A mesa ficou pela metade. Arrastaram as poltronas para a frente da televisão, e brigavam pelo melhor lugar para assistir a porra da Índia.

Costumo chamar, ultimamente, as novelas de LIXO. Não acho que seja um exagero, sinceramente. Léguas distante da arte ficcional, a ficção das novelas é feita para alienar as pessoas. Desconstrói mentes que já nascem engessadas. Confunde a realidade. E, nos poucos momentos de confraternização que nos damos ao luxo, ainda separam os comuns?

Se fosse na minha casa, juro que teria ido lá e desligado a televisão sem cerimônias. Faço uma festa, recebo as pessoas em minha casa, alimento-as, e elas preferem ficar vendo NO-VE-LA? Gente desse tipo merece ir pra puta-que-pariu ficar sozinha pro resto da vida.

Devaneando sobre a ficção das novelas, é impossível não se ater ao fato de que a grade de programação das emissoras de televisão aberta adoram confundir a mente do telespectador. Pobres mentes, que já nascem fadadas a serem atrofiadas em pouco tempo. A televisão cumpre um papel fundamental na sociedade, que é não deixar o cidadão pensar. Porque?

Porque quem não pensa, não analisa a sua conjuntura. Não enumera problemas. Não os resolverá. Não os discutirá, tampouco procurará culpados. Não se preocupará. Não será perigoso para quem quiser o continuísmo. Nunca ameaçará a atrofia cerebral contínua e progressiva que percebemos ao nosso redor. Manterá a sociedade-média como mera fornecedora de mão-de-obra. Nunca pensante!

Apesar de perder boas horas da minha vida vendo jogos de futebol, é inegável que ele tem um papel fundamental nesse sentido. Colocado justamente no domingo a tarde, ele serve para abreviar as reuniões familiares e acabar as conversar. Ao fim do jogo, já escurecendo, é hora de voltar para casa e se preparar para a semana que começa. Para garantir a atrofia, as mesas-redondas cheias de imbecis do naipe de Milton Neves, Avallones e Comedores de Bolacha continuam o assunto.

Durante toda a semana, a pressão começa quando começam a apitar as primeiras fábricas. 17h já tem novela. Ficção. E assim, continua, na grade da Vênus Prateada que guia o Ibope nacional, até às 19h. Para quê? Para dar tempo do trabalhador ir tomar o seu banho, ou jantar. Em seguida, mais ficção barata. Até outro telejornal. Agora, terminará a ficção? A mente incapaz de saber a diferença entre um Big Brother e uma câmera de segurança saberá diferenciar a manipulação informação de um telejornal da ficção? Duvido! Para garantir que não se perca, depois do telejornal tem… NOVELA!

Vamos resumir: durante cerca de seis horas contínuas, o telespectador brasileiro é bombardeado por ficção-realidade-ficção-realidade-ficção. Terá condições de diferenciar claramente DUAS situações dessas? Duvido… e a realidade que se apresente prova isso a cada dia… dizem o que nos preocupa. Dizem o que nos tira o sono.

Não chorei pelos mortos da Air France. Foda-se. Fodam-se todos eles, junto com os mortos da TAM em São Paulo e os da Gol no meio do matagal. Você que chora as mortes francesas, lembrou também daqueles defuntos que já mereceram tuas lágrimas?

O bombardeio também sabe ser mais cruel. Ainda bem que não chorei pela morte da Eloá. Senão, o que a Isabella Nardoni pensaria por eu tê-la esquecido? Putz, e o João Hélio? Alguém lembra dele? E os irmãos Cravinhos, continuarão mortos? O Champinha, o que anda fazendo da vida? Já é maior de idade, ou podemos continuar usando-o para justificar a redução da maioridade penal para podermos botar negros e pobres que roubam galinha mais cedo na cadeia?

Todos os dias, a ficção da vida real (sim, confuso!) nos bombardeia. Nos confunde. Nos entope de LIXO.

Não perca seu tempo. Desligue a televisão e despolua o mundo. Não espere que o seu vizinho faça a parte dele. Se você não rir quando ele falar uma palavra em indiano, já terá dado o recado. Não jogue o seu cérebro fora, ainda há tempo!


A metade da laranja?

10 de junho de 2009

Quem acompanha o blog sabe que eu adoro bater nos lugares-comuns. Esse eu não lembro de ter ouvido exatamente, num contexto bem claro, como foi o do último post. Mas, me veio à cabeça, em algum momento, num dia desses: são os solteiros que, em busca de consolo, dizem estar “atrás da outra metade da sua laranja”.

Nesse mesmo raciocínio, são inúmeros os outros comparativos sobre amores mal correspondidos. E todos eles têm em comum uma coisa: o pré-conceito de que ninguém pode ser feliz sem ter uma família de propaganda de margarina! Se o cara for solteiro, estará condenado ao fogo eterno. À solidão. A apodrecer sozinho para todo o sempre. Parece exagero, mas não é:

Invariavelmente, aquele que busca em outra pessoa algo que lhe complete é um ser incompleto! Não existe outra explicação mais lógica! Isso vale tanto para “a metade da laranja”, quanto para o famoso penduricalho de presentes adolescentes: cada um usa um pingente de MEIO coração! Isso quer dizer: sem você, não sou nada. Pode ser, a primeira vista, que soe romântico. Mas, eu considero DOENTIO, isso sim!

Você pode usar de figuras de linguagem para dizer que gosta, adora, ama outra pessoa. Que ela é perfeita (ainda que exagerando) para você, e que você quer amá-la eternamente, mesmo sabendo que isso não pode ser prometido nem se for até o fim do mês! Mas, dizer que a pessoa amada é a sua metade quer dizer que você não é você. Dizer que ela te completa quer dizer que, se tomar um chifre pé na bunda fora, esse cidadão ficará eternamente vagando pelo mundo, pela metade, incompleto, inacabado, sem poder ter um pingo de decência perante os outros e perante a si mesmo, a não ser que encontre OUTRA pessoa exatamente igual, que se encaixe onde a outra se encaixava.

Mas, peraê… se mais de uma pessoa pode se encaixar no mesmo “encaixe”, quer dizer que aquela não era a única… não é? Então, quer dizer que a poligamia poderia ser romanticamente aceita, condicionado ao fato de que todas as esposas/maridos têm que ser bem parecidos, com as mesmas manias, tradições e cultura (se é que isso fosse possível)? Mas, aí já complica demais, fica pra divagar noutro post…


Ser ou estar?

3 de junho de 2009

Hoje ouvi uma conversa que não era comigo. Uma mulher, jovem, com cara de beirar (pra cima) os 20 anos, se vangloriava à outra ter encontrado o “homem certo”. E a frase que me doeu os bagos ouvidos foi um estridente “é porque ele gosta de mim assim, pelo que eu sou”.

Porra, como alguém pode gostar de alguém pelo que o(a) outro(a) é? Isso é uma puta sacanagem! Ninguém é nada. Todos estamos alguma coisa.

Ilusões amorosas à parte, acho que ela me deu a deixa para dizer que é por isso que muitos relacionamentos não duram muito hoje em dia. E não é uma crítica à libertinagem ou molecagem, não. Muito casamento entre quarentões, cinquentões, acaba pelo mesmo motivo que acabam os namoricos adolescentes: as pessoas mudam!

E ainda bem que mudam! Já pensou se você, aos 50, 30 anos de casado, tivesse que aturar aquela pentelha mimada que era a sua esposa aos 15? Haja saco! Todo mundo atura uma ninfeta chatinha e mimada, mas não é pelo belo sorriso! Convenhamos! Quando a bunda dela cai, a graça vai junto. Uma velha chata e mimada nada mais é do que uma velha chata e mimada, e ninguém gosta de estar perto de uma pessoa assim!

O mesmo acontece com o sexo oposto, deixemos claro! O adolescente que só pensava em comprar um carro, aos 50, estará gastando o dinheiro que não tem para comprar um modelo melhor do que o do vizinho. Pelo mesmo motivo: tentar comer ninfetas arrumar sexo! Com a sua esposa? Desculpem, mulheres casadas, mas a resposta é NÃO!

Aposto que daqui há um ano, essa jovem já estará bem diferente do que ela é hoje. E o namoradinho dela, também. Que bom. Ainda bem. Tomara que sim, MESMO! Isso se chama evolução.

São poucas as coisas em comum entre eu com 18 anos, vivendo às custas dos meus pais, solteiro e fazendo faculdade, com o eu hoje, 24 anos, trabalhando e pagando as minhas contas. Meus interesses também, obviamente, são bem diferentes dos daquela época. Evoluí. O tempo passa. Vai tentar evitar isso, cara-pálida?

Não conheço a mulher que falou essa frase que tanto me provocou. Provavelmente nunca mais voltarei a vê-la. Quero, mesmo, mesmo, que ela tenha usado só uma força de expressão, ou uma corruptela da gramática para impressionar sua companheira de conversa, tentando impressioná-la…


Entrego Pizzas!

27 de maio de 2009

Senhores vereadores e assessores que “ousam” fazer oposição:

Solicito que, na próxima oportunidade em que o Legislativo for utilizado como CABRESTO para as vontades do Executivo Municipal, façam uma convocação de cidadãos que não tenham ficado contentes com a merda sacanagem atitude da vez.

Aposto que faltarão pedaços de pizza a serem distribuídos, e quero ver o que farão. Será que serei expulso da cidade? Será que vão me perseguir?

Foda-se Não importa. Avisem, conclamem o povo, e verão que não são os únicos. Deixo meu nome como primeiro da lista da Campanha:

pizzacamara

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Bloggeiros que desejarem jogar ao vento a campanha serão lembrados e recompensados com bons depoimentos à Ele no dia do Juízo Final!

Que tal camisetas e adesivos?

Copie e espalhe a imagem acima. O link para copiá-la em melhor resolução é  esse. Boa sorte!


Sina de mais um, em mais um dia, em mais um lugar…

6 de maio de 2009

Saiu de casa apressado, a passos largos. Faltava mais ou menos meia hora para o assalto. O fone de ouvido tocava um som forte, pesado, o som era do Planet Hemp. Entre dig-dig-digs e porcos fardados, seus passos ganhavam a avenida principal.

O frio no início da noite denunciava que o verão já sucumbira, e o outono dava as boas-vindas ao inverno. O vento gelado colaborava para que a caminhada fosse cada vez mais rápida. No ritmo das batidas da música, faltavam pouco mais de vinte minutos para o assalto…

Dobrou a esquina, contornando um semáforo onde os veículos se alinhavam. Em cada um, histórias diferentes, destinos diferentes. Fitou os rostos que aguardavam o verde surgir no horizonte. Faltavam uns dez minutos para o assalto, e passou por sua cabeça como o semáforo deixava tantas histórias a tão pouca distância…

De volta à rua menor, andava pela rua paralela à da sua casa. As árvores haviam crescido mais do que o planejado, e já formavam um grande túnel em seu redor. Fechavam a visão da rua e do céu nublado. Eram só mais cinco minutos para o assalto…

Entrou no túnel das árvores, e ficou na parte mais escura da rua. Empolgado pelas batidas da música, fechou os olhos e balançou a cabeça para frente. Em seguida, para trás. E para frente, de novo. Quando faria o quarto movimento, deslocando a cabeça para trás, foi surpreendido por uma pancada na nuca.

Foi assaltado a menos de 500m da sua casa. E a última coisa que lembra ter ouvido no seu mp3 foi um “Legalize já, legalize já…”…

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Cuidado, você está entrando na…

Parte chata do Post:

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A Novela da Vida Real


No melhor sentido “Moral da História”, resolvi explanar sobre a crônica acima. Foda-se se você achar que ela é mais um conto do que uma crônica.

Não, não considere essa crônica uma crítica ao uso de entorpecentes. Nem tampouco mais um lamento “cansado” sobre a violência que invade os bairros burgueses por todo o país (mundo?). O ponto que me fez escrever esse texto foi justamente a complexidade maior que vejo no contexto: quem são os vilões? Quem são os mocinhos? Quem são as vítimas?

Somos bombardeados por informação todos os dias, durante o dia todo. Arrisco dizer que menos de 1% dessa informação é aproveitável. Isso considerando que saber quem tá comendo quem entre o elenco da novela das 8 pode ser aproveitável para alguém. Pra mim, definitivamente não é. Mas, considerando que isso pode ser aproveitável para alguém… não dá pra fugir muito dessa lógica. Até porque tenho certeza que mais gente se importa com isso do que com os capangas do Gilmar Mendes…

E esse povo Zé Novela é tão alienado que sabe certinho quem é bandido e quem é mocinho na novela. Aliás, em todas as novelas. Das seis, das sete, das oito (que chega a começar às 21h3o!), isso quando não aproveita os telejornais pra assistir também às novelas das outras emissoras! Ou o “Vale a pena ver de novo” e Malhação! E essa neura faz com que o cidadão se acostume com a dicotomia bandido/mocinho.

A vida real não é feita de bandidos ou mocinhos. Até porque na literatura, no cinema ou até na novela, o mocinho que salva a mocinha do dragão não é o mesmo que a trai (não confundir com “atrai”) duas vezes por semana. Esse suposto personagem seria vilão ou mocinho? Seria inocente ou culpado? Julguem, senhores telespectadores!

Vivemos numa sociedade em que os rótulos são mais importantes que as pessoas. Fulano é um pai exemplar, então ele é catalogado como mocinho. Mas ele joga chepa de cigarro pela janela! Então é vilão. Mas ele doou 10 reais aos desabrigados da enchente! Então é mocinho. Ah, lembrei: ele come a secretária boazuda no horário de almoço. Vilão! Mas, sempre dá a vez às velhinhas na fila do mercado. Mocinho, é claro! Não fosse o fato dele ter dado a vez só pra dar aquela olhada na bunda da neta da velhinha. Ish, vilão. Ou mocinho, se ele tiver a intenção de casar com a mocinha? Caralho! Agora confundiu tudo. Ele tem boas intenções, mas é casado. Que vilão!

A verdade é que não existe rótulo perfeito. E caímos, diariamente, nessa armadilha. Separar o joio do trigo é fácil. Mas pessoas não são joio nem trigo. Ninguém é eternamente joio, nem trigo. Até o pior bandido do mundo pode amar, e ser um bom filho ou marido. Para sua mãe, para sua esposa, ele será mocinho. Até o mais puro fiel da praça pode ser considerado vilão se pagar o dízimo só por obrigação, e não por puro préstimo divino, como deveria fazer. E agora? Quem atira a primeira pedra?

A graça da vida está justamente no equilíbrio. No eterno desafio de equilibrar estas facetas. Não tente se convencer de que todos que te cercam gostam de você. Alguns te odeiam. Mas também não são todos, porra! Muita gente gosta de ti. Quantos estão em cada time? Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. O que acontece é que, a cada instante, um mocinho vira vilão. Um bandido vira vítima…


Perto Demais?

15 de março de 2009

Diz a lenda, dizem os mais velhos: “a gente nasce, cresce, vive e morre”.

A merda de saber questionar conceitos é justamente brincar com esses “ditados”. Em qual conceito encaixar a sua vida hoje? Já parou pra pensar nisso?

Outro desses ditos, este mais ligado ao charlatanismo Cristianismo diz que a vida tem que ser sofrida, para depois valer a pena e ser recompensado com o tal “Reino dos Céus”. Nesse sentido, a viagem toda diz que toda essa lenga-lenga por aqui não passa de uma brincadeira do Todo-Poderoso, que nos testa diariamente. Nascemos fudidos imperfeitos, passamos a vida fazendo merda aprendendo para, quando finalmente nos encontrarmos, podermos morrer com a “missão cumprida”.

Missão que nunca saberemos se existe, qual é, tampouco se conseguimos cumprir. Não parece “meio” babaca utópico?

Aplico esse raciocínio em alguns momentos da minha vida. Cansei de questionar todos esses “ditos”, sobretudo suas aplicações práticas.

Às vezes, sentimos a vida numa plenitude. Não que não tenhamos mais nada pra fazer nela, nada para conquistar. Mas que, enfim, entendemos o significado de alguma coisa que nunca havíamos parado para pensar. Isso se chama “aprender”. Isso se chama “conquistar”. Será que depois de aprender isso, de sentir o gostinho do “porra, tô no caminho certo”, vem a morte?

Talvez a grande causa do sucesso (eterno, ironicamente…) da morte seja justamente esse: ninguém sabe a sua data. A dúvida sobre quanto tempo falta é do mesmo tamanho que a certeza de que ela virá. A merda questão é justamente essa: porque tanta gente deixa tudo pra depois? Porque não realizar, aprender, ser feliz AGORA?

Li, há tempos, uma frase que sempre levo em mente: “Vida é aquilo que passa enquanto estamos preocupados com coisas mais importantes”. Não sei quem falou isso, mas eu concordo.

Quantas vezes deixamos quem amamos esperando, porque o filho da puta do chefe pediu pra ficarmos mais “umas horinhas” no trabalho? Quantas vezes magoamos quem amamos, simplesmente porque havia outra coisa, que você hoje nem lembra exatamente qual, mas que era “mais importante” para se fazer?

Apesar dos devaneios, ops, depauleios, costumeiros, o motivo desse texto é justamente questionar um sentimento um tanto quanto estranho. Me sinto bem comigo, com quem me cerca, com o que me cerca. Tá, óbvio que faço coisas que eu não gosto. Que eu gostaria de chutar da minha vida há muito tempo, mas tenho que adiar esse chute. Mas, no geral, eu sinto que aprendi. Me sinto realizado. Será que isso quer dizer que estou perto da morte?


EUROPA BRASILEIRA 4 – Asco

10 de março de 2009

“Estou aqui a lembrar do que me contou o João. Claro que o nome dele não é João, pois não sou tansa o suficiente para botar o nome verdadeiro dele e fazer com que ele incorra no desagrado dos poderosos que poderão se armar com represálias e acabar com o pobre trabalhador blumenauense, oficial pedreiro, que ganha a vida com dignidade construindo as casas e os edifícios para a burguesia.

João é jovem, é casado, tem três filhinhos – com seu suado salário comprou um terreninho numa encosta e construiu uma bela casinha também para si, fez varanda, garagem, a mulher dele botou cortinas nas janelas, plantou roseiras na frente – a vida ia que era uma beleza, João pensando em arranjar um cachorrinho para brincar com as crianças, quando veio o Desastre, a Desgraça – e numa tarde de chuva, em novembro de 2008, a casinha e o terreno dele escorregaram morro baixo, e mal e mal ele conseguiu salvar a família.

Faz algo como 105 dias que tal ocorreu, e João teve a grande sorte de não ter que ir com a família para um dos muitos abrigos da cidade, onde ocorreram coisas que nem se acredita – um cunhado dividiu com ele a casinha onde morava, e lá também havia duas crianças.

Tá, há 105 dias atrás esta minha cidade estava em tal caos que só estando aqui para acreditar, e faltou comida na casinha onde João se abrigara. Tal não seria problema, claro, as estradas de acesso à cidade mal davam conta de deixar passar os caminhões e caminhões de donativos que chegavam de todo o país e do exterior, tanta comida que agora, passados os tantos 105 dias, o responsável pelo assunto na cidade andou informando que ainda há 200 TONELADAS de donativos estocados. E João foi em busca de comida para a sua gente.

– Amiga – ele me disse – perdi a conta de quantos cadastros tive que fazer aqui e ali para ganhar algo para trazer para as crianças. Se eu conseguisse um quilozinho de arroz que fosse já ficaria feliz – não havia mais nada para as crianças comerem.

Pois vocês acham que João ganhou um quilozinho de arroz? Ganhou nada! E tinha gente ganhando carros tão cheios de comida que as rodas ficavam meio arriadas de tanto peso! Quem será que levou tanta comida para onde?

Sei que João e sua gente nada ganharam, tiveram que se virar com a fome, vendo gente com carros de rodas arriadas de tão lotados passarem defronte da casinha onde estavam abrigados. João é preto, sua família também. Será que isto tem algo a ver? Talvez tenha, talvez não, pois também ouvi diversas pessoas brancas me contando histórias muito parecidas.

Daí fico lembrando de outras histórias ouvidas nestes últimos 105 dias, como o daquele homem que estava num abrigo, e ajudou a descarregar de um caminhão caixas e caixas e mais caixas de sobrecoxa de galinha desossada, pitéu caro e raro, e ficou com água na boca, esperando para comer ao menos umazinha, quando ela fosse servida, só que naquele abrigo nunca se comeu sobrecoxa de galinha desossada. Para onde foram aquelas caixas todas? Para um supermercado, ou talvez para os amplos congeladores de burgueses que fedem?

E lembro mais: da minha amiga Janete (claro que também não sou tansa o suficiente para dar o nome verdadeiro da Janete!), que é da APP de uma escola, e que faz poucas semanas estava na escola e veio uma mãe buscar uma lata de leite para seu bebê. Ela atendeu à mãe, deu o leite para o qual aquela criança estava cadastrada, e juntou ao leite algumas caixinhas de água de coco. Nunca estive naquele abrigo e não sei quem o dirige, mas foi o tal diretor (ou diretora) quem partiu para cima da Janete: não era para dar a água de coco.

Janete já teve suas crianças, sabe que elas precisam de suplementos além do leite, e rebateu a proibição – por que não podia dar, se era coisa de doação? Levou uma bronca – não era para dar e pronto. Fico pensando em qual supermercado deve estar sendo vendida aquela água de coco proibida, ou em qual geladeira de qual burguês ela está…

São pequenas amostras do que acontece por aqui por esta cidade de Blumenau. Se fosse contar cada história que acabo sabendo, mil folhas talvez não fossem suficientes.

E agora estão jogando comida fora, comida cuja validade venceu! Quantas toneladas estão jogando? Não sei, mas desta vez não tenho como passar por mentirosa, pois antes de mim a imprensa radiofônica e televisiva noticiou, com as devidas imagens e tudo – disseram-me também que saiu em jornais de papel, mas eu, pessoalmente, não botei os olhos neles, e então não faço afirmações a respeito. Mas o quilo de arroz que foi negado às crianças de João está lá no lixão da cidade, e tantas outras coisas, tantas outras! Quando a imprensa começou a noticiar, as autoridades disseram que era coisinha de nada, comidas que já tinham chegado vencidas há 105 dias atrás. Uma ova que era! Era a comida que foi negada a tantos Joões e tantas crianças, brancas e pretas, decerto para se ver quem podia levar maior vantagem com o que sobrasse.

Sei que você doou, e você também, e você outro decerto também – e não me esqueço daquele homem de Salvador que apareceu na televisão, ganhador de salário mínimo, mas que também conseguiu doar um pouquinho…

Sinto asco de certa parte da humanidade que é capaz de deixar criancinhas sem um quilo de arroz ou uma água de coco, para jogar comida no lixo depois. Ai, que asco que sinto!”

Blumenau, 08 de março de 2009.

Urda Alice Klueger
Escritora e historiadora


Porque o casamento é uma fraude

26 de fevereiro de 2009

Tem gente que não toma banho sem escovar os dentes antes.

Tem gente que não visita os outros sem levar presente.

E também tem gente que acha que um casal não pode viver em harmonia e sob os mesmos princípios do casamento sem ser casado. Eu acho que o casamento é uma fraude, sim.

Pagar por um pedaço de papel que diz que eu “sou” da mulher e ela “é” minha? Pagar pra encher uma Igreja que nunca frequentei com flores que eu nunca vi vivas? Pagar pra alimentar pessoas que não necessariamente eu gosto, unicamente para que elas não pensem mal de mim? Não, obrigado.

Não vejo “utilidade” nenhuma no casamento. Ainda mais depois do novo Código Civil praticamente igualar os direitos após pouco tempo de convívio estável.

Eu, por exemplo, namoro há quase 5 anos, e DUVIDO que algo mudaria na minha vida se eu me casasse.

Mudaria, sim, muita coisa, pelo fato da minha namorada passar a morar comigo. Isso nos obrigaria a rever algumas manias, hábitos, etc. Mas não por causa do maldito papelzinho…